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  • Foto do escritorRafaela Pandolphi

Minha primeira experiência nas finais do YAGP em Nova Iorque



Resolvi compartilhar um pouco dessa experiência, que acredito ter sido um grande divisor de águas em minha vida. O Youth America Grand Prix é considerado um dos maiores eventos internacionais de dança, pelo número tão expressivo de bailarinos participantes, originados de dezenas de países e também pela grande quantidade de oportunidades de bolsas de estudos ofertadas para as mais renomadas escolas oficiais de dança de todo o mundo.

Tudo começou quando eu tinha apenas 9 anos. Já ouvia falar dessa competição há algum tempo, do nível altíssimo de exigência técnica na Seletiva Brasileira, da qualidade e grande talento dos bailarinos que haviam participado nas edições anteriores e confesso que apenas enxergava o YAGP como uma pequena e ainda muito distante possibilidade para mim.

Para que eu pudesse entender melhor e ver de perto como o processo da Seletiva funcionava, no ano de 2012, viajei para a cidade de Santos - SP com minha mãe, um dos meus professores da época, Marcos Sanches e todos os bailarinos da Cia. Jovem de Dança de São José dos Campos, que eram meus colegas de sala de aula no dia a dia. Naquele ano, a Seletiva aconteceu nessa cidade do litoral sul paulista. Meus amigos da Cia. Jovem estavam na Seletiva para tentarem vagas como solistas e também como grupo e me lembro que a diferença de idade entre nós era bem grande. Eu era a "mascotinha" da turma e nessa oportunidade, estava lá apenas como platéia, pra torcer por eles e mandar boas energias. Me lembro que tudo foi muito grandioso, encantador e de certa forma assustador! Pude assistir bailarinas solistas muito talentosas, da minha idade ou pouco mais, fazendo parte da categoria pré e com certeza a vontade de um dia estar naquele palco, tentando a minha oportunidade só cresceu!

De volta à realidade, retornei para a sala de aula e meus professores e minha família conversaram sobre realizarmos um trabalho árduo, durante todo o ano seguinte e que, sem grandes expectativas, eles me levariam para a próxima Seletiva, que aconteceria no segundo semestre de 2013.

Lembro que me dediquei ao máximo e doei tudo de mim naquele ano. Fazia muitas aulas por dia, ensaiava incansavelmente e estava nesse momento me adaptando à novidade do trabalho nas sapatilhas de ponta, que havia apenas começado. Participava de todos os cursos e workshops possíveis. Estive em dezenas de festivais para me sentir a cada dia mais segura nos palcos. E a Seletiva do YAGP se aproximava!

Como um grande privilégio, me mantinha em contato constante com minha "mãe" no ballet clássico, Áurea Hammerli, primeira bailarina do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Sobre ela, dedicarei um post inteiro, em breve aqui no blog! Penso que os que não a conhecem, precisam saber mais sobre essa grande estrela da dança, que é dona de uma história brilhante registrada pelos palcos do mundo.

Faltando alguns meses para a Seletiva Brasileira do YAGP, viajei para o Rio de Janeiro para mostrar à Áurea Hammerli, o que meus mestres e eu havíamos preparado durante o ano e para que ela pudesse dar uma "lapidada final" no trabalho realizado até então.

Eis que chega o grande momento!

Em outubro de 2013, a cidade de São Paulo, sediava a Seletiva e eu estava lá, acompanhada por minha mãe, meus mestres e também por ela - Áurea Hammerli. Fui avaliada em aulas de ballet clássico e nas apresentações de variação de repertório e solo livre. Minha cabeça estava totalmente preparada para encarar tudo como uma grande experiência, afinal eu tinha pouca idade, muito trabalho pela frente e aquilo tudo parecia ainda estar bastante distante.


Como a edição da Seletiva YAGP completava 10 anos no Brasil, a organização planejou uma grande Gala Comemorativa, que foi realizada no Teatro Alfa, também na capital paulista. Certamente essa foi uma noite memorável! Pude assistir grandes nomes da dança se apresentando naquele palco. Também guardo comigo a emoção de participar da coreografia criada para o Grand Defilè, onde estavam todos os bailarinos inscritos na seletiva.

Eis que, ao final do evento, foram anunciados os nomes que iriam compor a Delegação Brasileira no Youth America Grand Prix em Nova Iorque. E para a surpresa de todos, meu nome estava lá!

Sim, eu embarcaria rumo à uma das experiências mais especiais da minha vida como bailarina. Aos 10 anos, eu iria representar o meu país nos Estados Unidos, no mês de abril de 2014.

Os próximos meses foram totalmente dedicados aos preparativos para essa viagem. Muitos ensaios, aulas, novos figurinos, organização de documentação e um grande desafio financeiro a ser vencido por minha família. Incontáveis iniciativas foram realizadas para arrecadarmos o necessário para viabilizar a viagem.

Naquele ano, eu era a única bailarina da região do Vale do Paraíba a fazer parte da Delegação Brasileira.

A organização de eventos em prol de um objetivo individual, não era algo muito comum, mas a união de 17 escolas, do interior de SP e da capital paulista, fizeram com que a Gala: "Rafaela Pandolphi - A pequena Bailarina em um grande salto" se tornasse um grande coletivo de apoiadores e amantes da dança, fazendo com que o sonho de uma menina de apenas 11 anos se tornasse realidade.

Duas sessões de "casa cheia" com lindas apresentações e um público que esbanjou afeto! A sensação de chegar a Nova Iorque foi literalmente a de estar vivendo um sonho, minha primeira vez fora do país, representando o meu país em uma das maiores competições de dança do mundo, na companhia da minha melhor amiga e grande apoiadora, minha mãe e meu professor, Marco Sanches. Aquele era de verdade um salto muito grande para uma pequena bailarina, do interior de São Paulo.

Difícil registrar em palavras o tamanho da emoção. Mas os registros em imagens foram inúmeros! Durante o período da competição, participei de diversas aulas com professores e diretores das melhores escolas e companhias de dança de todo o mundo e me apresentei em teatros incríveis na cidade de NY.

Me lembro o quão mágico era olhar para os lados e ver a qualidade técnica daqueles bailarinos tão jovens. E nos bastidores, acabei por afinidade, me aproximando de muitos desses grandes talentos. Alguns viraram amigos, com os quais tenho contato até hoje! Tive a oportunidade de dançar a coreografia criada para os participantes, no Lincoln Center, aquele complexo de Teatros que eu só via em filmes e que faziam meus olhos brilharem!


Na Gala de encerramento, assisti as apresentações de grandes estrelas de muitas companhias que dançaram como convidados no Festival. Tudo era muito diferente do que eu estava acostumada no Brasil. Quase uma centena de bailarinas e bailarinos em cada categoria, todos de nível técnico altíssimo e eu estava ali, no meio de diversas culturas, metodologias de ballet, idiomas...

Com toda a certeza, o YAGP 2014, foi um grande divisor de águas para mim. Na solene e emocionante cerimônia de premiação, que é realizada ao final do Evento, todos os participantes sobem ao palco, carregam as bandeiras de seus países e na mesma oportunidade, podem receber propostas de bolsas de estudos para as mais renomadas Escolas de Dança.

Tudo foi muito mágico e emocionante, porém naquele ano, não recebi nenhuma proposta de bolsa de estudos. Por um instante, me senti incapaz e sem as qualidades necessárias para seguir, mas a experiência que poderia ter me desmotivado, não demorou muito a se tornar o mais importante impulso para voltar e trabalhar ainda mais duro, diariamente para alcançar o nível técnico e artístico daqueles bailarinos tão sensacionais. Entendi que eu era apenas uma criança, que acabava de começar a jornada nesse universo internacional de competições.

Voltei para o Brasil com a mala cheia de amizades, muito aprendizado, novas energias, determinação e principalmente muito foco no que eu gostaria de atingir. De verdade, se eu pudesse dizer algo para a Rafaela de 11 anos seria: - "Acalma o teu coração e segue em frente, o alicerce da casa está começando a ser construído! Têm muitos tijolinhos para serem acentados dia após dia. Todos terão seu lugar ao sol se acreditarem que é possível e não desistirem." Aquele era só o começo de uma longa, árdua, porém deliciosa caminhada que eu ainda trilharia.


Rafaela Pandolphi :)



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